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Na verdade, sentimentos não se expressam facilmente por palavras. A saudade, o medo, o amor, os desejos, enfim, ficam marcados para sempre. Mas são imensuráveis. Quem não guarda na lembrança momentos felizes, que desejaria reviver? Ou dores, mágoas e dissabores, que jamais gostaria de ter experimentado?
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Nunca esqueci do momento que deixei o meu velho Pajeú, mas precisamente a casa do sítio Mocambo. Era uma madrugada fria, quando me despedi de minha mãe, dona Santa. Ela ficou à porta com lágrimas nos olhos, até que a vista não mais me alcançasse. Imagino que a dor somente não fora maior do que a que sofrera sete anos antes, com a perda de Dimas, um filho de apenas 16 anos e nove meses, que surpreendeu a todos com uma parada cardíaca.
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Saí naquela madrugada com o coração partido, também. O meu Pai, Severino Ferreira, de “coração duro” preferiu não assistir à partida. Talvez ele pensasse que eu seria o único dos filhos que não deixaria aquele lugar.
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Mas tive que topar a parada, para não ter que ficar por toda a vida “puxando cobras pros pés”, ou tangendo bois e lhes dando rações, sem direito, sequer às justas folgas dominicais.
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Passados 30 anos e já sem as presenças, na terra, da minha querida mãe Santa e do inesquecível Severino Ferreira, não consigo esquecer tantos momentos felizes, ao seu lado e junto aos irmãos Marisa, Terezinha, Luiz, Dimas, Zezinho, Elias, Bernadete (Beta), Sandra e Fátima.
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A saudade bate mais forte ainda quando chega a invernada, logo nos primeiros meses do ano, estendendo-se até junho, período de colheita e de fartura, nos anos de bom inverno.
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Guardo muitas recordações da enorme fogueira montada no centro de um triângulo formado pelas casas de meus pais, de meus avós Manoel Ferreira – morto a tiros em 1951 – e Tereza Maria de Jesus, e a Capela do Senhor do Bonfim, templo onde se realizavam celebrações e também foi sede da minha segunda escola. Não esqueço as brincadeiras e as novenas do mês de Maria, sempre “puxadas” por tia Inês, durante os 31 dias de maio.
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Filhos de camponeses barrigas cheias, mas sem muitas fortunas, contentávamo-nos com aquilo a que tínhamos acesso. Nas noites de São João, as paneladas de pamonhas e de canjica e milho assado na brasa eram sagrados. Porém, se faltassem os tradicionais traques e busca-pés, o ano para nós estava perdido. Afinal, fora o principal lazer da primeira infância de tantas crianças e jovens do lugar.
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Hoje, resta-nos voltar àquela casa, já reformada e ampliada, para relembrarmos tantos momentos felizes. Como se diz que recordar é reviver, esta é a forma que encontramos para matar a saudade, mesmo diante apenas das fotos de nossos pais e de alguns utensílios ainda preservados na velha casa onde nascemos.
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Chora coração, mas bate forte! É a vida!
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Texto: Antonio Nunes
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